domingo, 12 de junho de 2011

IMAGINAÇÃO



Há um fato, já largamente divulgado, de que o lado direito do cérebro gera figuras, atua criativamente, utilizando a imaginação. O lado esquerdo é sede da razão, do cognitivo, de fatos, lógica e matemática. Relações pessoais, intuição, sentimentos e emoções se processam no lado direito. Blaise Pascal (1623–1662) bem disse: “O coração tem razões que a razão não conhece” (Penses 177)! Deus nos deu a capacidade de imaginação para fazer a ponte entre as emoções e a razão. Quando se une imaginação à razão, a força da comunicação aumenta notavelmente.

A imaginação tem seu devido destaque na Bíblia. Deus usou histórias pessoais, parábolas, experiências, metáforas e figuras para comunicar as verdades eternas. Lastimavelmente, seus porta-vozes nem sempre se lembram de que a negligência desse instrumento poderoso empobrece a pregação e o ensino de Palavra de Deus. Ouvintes e leitores captam verdades comunicadas com criatividade, mas regularmente desligam os neurônios quando ouvem esboços, listas de exortações e fatos secos e impessoais.

Fomos criados na imagem de Deus; quer dizer que somos pessoas. Ele sabe perfeitamente que somos capazes de responder melhor a quadros mentais vívidos. Ilustrações que iluminam ensinamentos, quando repassadas sem imaginação, têm o sabor de polenta fria, sem sal ou condimentos.
Envolver os sentimentos tem força de propulsão maior que meros fatos quando se apela à vontade do homem. O receptor mais facilmente ganhará o desejo de agir, uma vez que a exortação foi vinculada diretamente aos sentimentos e não apenas ao poder da lógica. Simpatia tem o potencial de nos comover de um modo que estatísticas e a lógica não podem. Quando um comunicador envolve as emoções com histórias e experiências, ele alcança seu objetivo mais eficazmente.

Imaginação transmitida graficamente suscita imagens mentais que animam a vontade. Invenções têm sua fonte na imaginação. Thomas Edison teve primeiramente a idéia de um fio incandescente que produziria luz. A imaginação ativou a razão para buscar as condições práticas para criar a lâmpada que beneficiou incontáveis milhões de pessoas. Sem a persuasão que a imaginação criou, Edison nunca teria inventado nada. A primeira lâmpada elétrica foi a filha da imaginação.
D. F. Stevenson explica claramente o que a imaginação quer dizer: “A capacidade de ver coisas velhas e familiares em novas associações, de novas perspectivas, combinam coisas antes não-associadas” (citado por W. Wiersbe, Preaching and Teaching with Imagination, Baker, 1996). De fato, é mais fácil correr pelo mesmo trilho, mas usar a imaginação abre novos caminhos.

Creio que muita pregação abre mão desse poderoso instrumento, como o sacerdote evitou o ferido na descida de Jerusalém a Jericó. Um habilidoso comunicador como Charles Spurgeon, que manteve dominicalmente mais de cinco mil ouvintes no Tabernáculo de Londres, não foi tão insensato. Metáforas, figuras, ilustrações foram servas de sua lógica cristalina.

Fala-se que um quadro vale mil palavras. A maioria vale muito menos. Depende do pintor! Algumas pinturas valem milhões, outras não valem nada. O que vale é a criatividade, aquele raro instinto de criar associações entre o mundo espiritual e o mundo imaginário. Paulo chama pecadores não-arrependidos na Ásia de “cadáveres”, os mestres hereges filipenses de “cães” e líderes da igreja de Éfeso, de “lobos vorazes”. Jeremias disse que as profecias dos profetas impostores não passam de “palha” enquanto a Palavra do Senhor é “um martelo que despedaça a rocha”.

Conclusão

“Ver” com os olhos fechados requer o emprego da faculdade da imaginação. Quando se imagina, se viaja para fora do deserto do seu próprio mundo interior, muitas vezes, um cenário de rotina e mesmice. Turismo e cenas exóticas apresentados na televisão atraem pessoas porque as tiram do tédio e enfado e as projeta para o mundo exterior. O processo de captar imagens e recolocá-las com palavras na mente de um ouvinte acontece de modo similar.
Palavras podem fazer mais: podem suscitar emoções, provocar tensão, trazer convicção e servir de ferramentas nas mãos do Espírito Santo para persuadir e mudar pessoas empedernidas. Isso não ocorre sem palavras que mexam com a imaginação. Se a pregação é o meio escolhido por Deus para atrair pecadores para Si, será pela pregação com imaginação que orações se abrirão para o amor de Deus.

Russell Shedd é PhD em Teologia do Novo Testamento e doutor em Divindade.

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