sábado, 10 de setembro de 2011

Cristo e sua persuasão do amor...



Sujeição

Dos muitos termos que descrevem os relacionamentos entre Cristo e seus seguidores aparece uma palavra que não esperaríamos. Refiro-me à palavra “escravo”, ainda que nas versões da Bíblia em português o original doulos seja traduzido como servo. Em Filipenses 1.1, tanto Paulo como Timóteo são “escravos” de Cristo.

No primeiro século, um escravo era uma pessoa subjugada sem qualquer direito humano. Seu senhor o comprava como alguém compraria um animal para trabalhar e cumprir a vontade do seu mestre.

A razão pela qual um cristão podia pensar em si mesmo como um “escravo” de Cristo se deve ao fato de que o sacrifício de Jesus na cruz foi considerado uma transação financeira, uma compra. Paulo escreveu aos coríntios: “Vocês foram comprados por alto preço” (1 Co 6.20). O cântico novo dos 24 anciãos revela que o Cordeiro (Cristo) “comprou com seu sangue para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap 5.9). Para todos os que foram comprados pelo sacrifício de Jesus na cruz, não resta nenhuma outra opção senão a de se conscientizar de que não são livres, mas escravos.

Várias implicações sérias surgem em decorrência dessa transação. Um escravo de Jesus Cristo não é dono de sua própria vida. “...O corpo de vocês”, anuncia o apóstolo, “é santuário do Espírito Santo que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos” (1 Co 6.19). Quem tem direito absoluto de mandar nos cristãos é Cristo, tal como o homem domina seu próprio corpo e faz com ele o que bem entender.

Sabendo que foi comprado, o cristão deve reconhecer que, mesmo mantendo sua vontade própria, ela deve ser subjugada à vontade do Mestre. De fato, mesmo admitindo que fomos comprados, não quer dizer que automaticamente a nossa vontade seja dominada pela vontade do Senhor. Lembremos que Jesus, no Jardim de Getsêmani, revelou que Ele precisava subjugar a sua vontade à vontade do Pai.

A decisão de se entregar a Jesus significa que Ele passa a ser o Senhor dos que voluntariamente se sujeitam à sua liderança. Aceitam de bom grado ser “escravos” de Cristo, como Ele foi sujeito a Deus, seu Pai, em sua encarnação (Fp 2.7). Na escravatura humana, a obediência é exigida e forçada. No velho império romano, um escravo que se arriscava a desafiar a autoridade do seu senhor poderia esperar conseqüências das mais severas. Um dono irritado poderia até matar seu próprio servo sem prestar contas a ninguém.

Jesus Cristo não trata seus “escravos” assim. Muitas vezes nos permite desobedecer sem que recebamos qualquer castigo divino. Em raras ocasiões, Ele nos corrige como um bom pai que quer o melhor para o seu filho amado. Por isso, Henry Martin, missionário consagrado na Índia no início do século 19, escreveu: “Se nosso coração covarde te negar em íntimo pensamento, ou obra, ou palavra, não deixe nossa dureza ainda te desafiar, mas, com um olhar, subjuga-nos, Senhor” (Refrigério para a Alma, Shedd Publicações, p. 191).

Ele disse para os discípulos: “Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu pai eu lhes tornei conhecido” (Jo 15.13 – NVI). Parece que Cristo prefere nos coagir com a persuasão do amor.

Paulo reconheceu que o amor de Cristo é profundamente constrangedor. Bem-aventurados são aqueles “escravos” que agem voluntariamente, reconhecendo os direitos que o Senhor tem sobre suas vidas. Ao mesmo tempo, de bom grado se oferecem para obedecer à sua vontade revelada na Bíblia. Foi o apelo que Paulo fez para os cristãos de Roma quando os exortou a oferecer os seus corpos a Deus como sacrifício santo e agradável, para experimentar a perfeita e boa vontade dEle.

Quando percebemos a postura que Deus requer das esposas em relação aos seus maridos, notamos essa mesma ordem bíblica. “Mulheres, sujeitem-se cada uma a seu marido, como ao Senhor” (Ef 5.22). As esposas que obedecem a esta palavra bíblica não têm grandes dificuldades nessa área se amam e respeitam os seus maridos. Problemas surgem quando os esposos agem de modo injusto ou pecaminoso com suas mulheres.

Graças a Deus, esse problema não pode aparecer no relacionamento de uma seguidora de Cristo. Sua perfeição e fidelidade absoluta garantem que Ele nunca mandará um dos seus “escravos” agir de modo falso ou injusto. Podemos todos confiar que o que Ele ordena será para nosso bem e não nos trará prejuízo.

Russel Shedd

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...