sexta-feira, 3 de agosto de 2012

De mito poético a simples fato...


O SENTIDO essencial de todas as coisas passou do “paraíso” do mito a “terra” da história. Agindo assim, em parte o sentido esvaziou-se de sua glória, da mesma forma que Cristo se esvaziou da sua para se tornar homem. Essa é a explicação real para o fato de que a teologia, longe de derrotar seus rivais com alguma poesia superior, é menos poética do que eles, num sentido superficial, mas bastante real. 

É por isso que, no mesmo sentido, o Novo Testamento é menos poético do que o Antigo. Quem já não teve na igreja a impressão de que, se a primeira lição é uma passagem importantíssima, a segunda se torna insignificante em relação àquela – parecendo até, por assim dizer, trivial? É isso mesmo que acontece, e é o que tem que acontecer. Essa é a humilhação do mito que se torna fato; do Deus que se torna homem.

O que está em todo lugar e sempre, desprovido de imagem e inefável, só podendo ser vislumbrado em sonhos e símbolos e na poesia do ritual realizado, acaba se tornando pequeno, sólido – nem um pouco maior do que um simples ser humano, capaz de dormir em um barco no mar da Galileia. Você pode até dizer que isso, em última instância, é uma poesia ainda mais profunda; não vou contrariá-lo. A humilhação leva a uma glória ainda maior. 

Porém, a humilhação de Deus e o encolhimento ou condensação do mito, quando vem a se tornar fato, também são verdades inegáveis.

– de The Weight of Glory [Peso de Glória]

Retirada de Um Ano com C. S. Lewis (Editora Ultimato, 2009)

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