sexta-feira, 8 de abril de 2011

Barnabé, um modelo a ser seguido...



Barnabé era homem bom e piedoso,
cheio de temor e fé; homem de Deus.


Ele era um aluno perspicaz, daqueles que fazem perguntas desconcertantes e sentam-se na primeira fila durante as aulas. Seu mestre percebeu naquele jovem uma rara capacidade e um desejo enorme de aprender. Foi então que arranjou tempo para ele e o incentivou a continuar a estudar e a desenvolver seu talento na arte da escrita. A maioria de nós já foi edificada com os bons livros que um dia aquele estudante promissor escreveria. Contudo, Charles Swindoll – esse era o aluno – jamais teria chegado a algum lugar sem o apoio e incentivo de seu mestre Howard Hendricks.

Geralmente, não relacionamos o encorajamento e o incentivo às pessoas como um ministério espiritual, algo de natureza divina – deixamos isso para os mensageiros da auto-ajuda, para os “gurus” de motivação pessoal. No entanto, a narrativa bíblica no livro de Atos, logo nos primeiros capítulos, apresenta-nos um personagem que tinha um ministério sui generis. Ele era conhecido como aquele que consola, que incentiva, encoraja e auxilia. O hábil escritor Lucas, bem meticuloso, ressalta o carácter desse homem.

Atos 4.36 diz: “José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho de exortação, levita, natural de Chipre.”

Vale a pena atentar para as quatro situações em que Barnabé exerceu o seu ministério de incentivador. O contexto em que a Igreja encontrava-se era desanimador – Pedro e João haviam sido presos; os irmãos passavam dificuldades de natureza material, ameaças de todos os lados e toda sorte de necessidade. A nascente comunidade cristã precisava de apoio – não de palavras, e sim de suprimento. Foi o que fez Barnabé: dividiu parte de sua riqueza com a congregação. Que incentivo! E que ânimo proporcionou àqueles irmãos no momento de mais dificuldades.

A Igreja é um lugar em que se fala muito em comunidade; entretanto, na maioria dos casos, o que se vive é a individualidade. As necessidades no meio do Corpo de Cristo são as mais diversas: gente desempregada, famílias necessitadas, jovens problemáticos, lares disfuncionais, obreiros desanimados etc. Na maioria dos casos, há pessoas no interior da comunidade que poderiam servir de resposta aos problemas de muitas delas. No ambiente evangélico, oportunidades é que não faltam para quem quer exercer o ministério do socorro e do encorajamento. Então, exercite seus dons, faça algo, saia do seu comodismo e seja um canal de bênção para outros.

O outro evento em que vemos Barnabé atuando foi quando aconteceu a conversão de Saulo.

Atos 9.26,27 diz: “ Tendo chegado a Jerusalém, procurou juntar-se aos discípulos; todos, porém, o temiam, não acreditando que ele fosse discípulo. Mas Barnabé, tomando-o consigo, levou-o aos apóstolos; e contou-lhes como ele vira o Senhor no caminho”.

Mais uma vez o encorajador entra em cena e se expõe pelo jovem Paulo. Apresenta-o à liderança da Igreja e convence-os da legitimidade de sua conversão. Quando a maioria estava receosa acerca de sua experiência com Deus, houve quem decidisse pôr a mão no fogo por ele. Mais uma vez, Barnabé exerceu o ministério de ajuda e apoio.

Para a Igreja primitiva nesse tempo, Saulo era mais um, uma pessoa como outra qualquer. O movimento cristão estava a crescer; pessoas se convertiam diariamente; portanto, não fazia diferença nenhuma um crente a mais ou a menos. Contudo, Barnabé era homem de discernimento, sabia ver o que a maioria não enxergava; foi assim que Paulo sentiu-se confortado e aceito no movimento, por causa da palavra e o apoio de um homem que decidiu servir de amparo no momento em que o futuro apóstolo mais precisava.

A palavra que define Barnabé é a mesma designada para uma das funções do Espírito, paraklésis, isto é, ”aquele que consola". Vivemos em uma sociedade individualista; entretanto, a Igreja é um sistema contracultural. As Escrituras chamam-na de família, diz que seus integrantes são membros de um mesmo corpo, e conclama aqueles que crêem no Senhor a um estilo de vida comunitário.

A pergunta é: que pessoas Deus tem enviado às nossas comunidades e que necessitam do amparo de um pai, uma mãe, um irmão espiritual? A Igreja de Jesus tem o que nenhum outro estilo de vida pode oferecer: amor, aceitação, perdão, abrigo, apoio mútuo... Talvez o desafio para a Igreja neste século confuso, de insegurança e fragmentação, seja o desafio de integrar-se na localidade geográfica em que está inserida, vivenciar suas dores, caminhar com os fracos e oprimidos, sentir o cheiro da desilusão do pobre e oferecer aos que a cercam um lugar de consolo e abrigo.

Mais à frente, no capítulo 11 do livro de Atos, é narrado como o Evangelho chegou a Antioquia e alcançou pessoas fora da comunidade judaica. Então, a Igreja em Jerusalém decide enviar justamente a ele, Barnabé, para auxiliar aqueles novos crentes. Há um detalhe interessante na vida daquele homem: como ele enxergava as situações e as pessoas. Primeiro, ele viu e supriu a necessidade de Saulo ser aceito entre os irmãos; depois, acreditou que em Antioquia veria a graça de Deus sendo derramada entre os gentios. Quanto discernimento espiritual!

Mas o ambiente era paradoxal. Enquanto a Igreja primitiva crescia, passava por toda sorte de tribulações: a opressão das autoridades romanas, a perseguição por parte dos clérigos judeus, a carência material – enfim, um contexto de crise. E o que Barnabé fazia? Exortava, consolava, animava, encorajava, auxiliava. Trazia palavras de refrigério e ânimo aos que sofriam por sua fé. Nada de sermões rebuscados, de ortodoxia sem vida, de moralismo religioso, mas sim, atitudes de compreensão, bondade, confiança e aceitação.

Raramente as pessoas veem coerência nas situações difíceis da vida. Nesses momentos duros, é normal achar que Deus não está presente, ou que não vai agir. Mas ver a mão do Senhor no caos e em meio a lutas e provações é fruto de sua graça e amor. Pois em meio àquela azáfama toda, Barnabé tem tempo para lembrar do amigo Saulo; vai ao encontro dele em sua terra natal e lança-o no ministério, dividindo com ele a tarefa de discipular aquela igreja (Atos 11.25,26).

Dali em diante, todos os “holofotes” estariam sobre Paulo, enquanto Barnabé praticamente sai de cena. Aqui está um exemplo a ser seguido. A Igreja é lugar onde Deus elege os seus vocacionados. Eles não precisam pertencer a uma elite religiosa, ao contrário – encontram-se entre o povo. É responsabilidade da liderança preparar e promover aqueles a quem Deus vocacionou. Saibam, pastores: chegará um dia em que seu ministério se encerrará. Quem estará preparado para substituí-lo?

Por fim, em Atos 15.37-39, encontramos mais uma vez a mão restauradora de Barnabé. Paulo, irredutível, achava que uma pessoa que os havia deixado em outra ocasião não era digna de acompanhá-los novamente. Mas o encorajador pensava de maneira diferente. Barnabé entendia que aquele rapaz merecia uma segunda chance. Para ele, o erro de uma pessoa não era o ponto final de sua história. Quantas pessoas você conhece que cometeram deslizes, pecados, saíram da rota e necessitam de seu incentivo? Ora, a Igreja é lugar de doentes, fracassados, miseráveis, de gente cansada da vida, dilacerada pelo pecado, pelas decisões erradas. Há sempre alguém que errou – e, para esses, o Evangelho sempre trará lugar para restauração e novas oportunidades.

Barnabé era, segundo as Escrituras, “homem bom e piedoso, cheio de temor e fé; homem de Deus”. Sua memória nos convida hoje a também sermos pastores dos caídos, consoladores dos abatidos, encorajadores dos desanimados.

Josenaldo Silva
Lisboa, Portugal

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